Evacuação com apoio francês retira Andry Rajoelina de Madagascar em meio a motim militar e protestos em massa
Editorial Resenha Diária
13 de out.
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Atualizado: 14 de out.
RFI confirma evacuação de Andry Rajoelina em avião militar francês; motim da CAPSAT e protestos aceleram crise política em Madagascar.
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Uma operação de evacuação com assistência francesa retirou do país o presidente de Madagascar, Andry Rajoelina, em meio à escalada de protestos e ao motim de unidades-chave das forças de segurança. Segundo a rádio pública francesa RFI, a saída ocorreu por meio de uma aeronave militar francesa, após um acerto direto entre Rajoelina e o presidente Emmanuel Macron, enquanto o governo malgaxe denunciava a tentativa de golpe por parte de setores do Exército, incluindo a elite CAPSAT, que havia sido determinante na ascensão de Rajoelina em 2009.
De acordo com relatos, a evacuação teria ocorrido a partir da ilha de Sainte-Marie, na costa leste, com destino inicialmente incerto, há menções a uma escala na ilha da Reunião, e hipóteses de continuidade para Maurício ou Emirados Árabes. Antes de a fuga ser confirmada por veículos internacionais, o Palácio presidencial anunciara um pronunciamento nacional às 19h, mas a localização do presidente já era motivo de especulação. A embaixada da França, por sua vez, sustentou que não havia “intervenção militar francesa” em curso, frisando respeito à soberania malgaxe, enquanto notícias apontavam que a aeronave e a logística pertenceriam às Forças Armadas francesas, sob um entendimento político entre os dois governos.
Os protestos, impulsionados pelo movimento juvenil “Gen Z Madagascar”, ganharam força desde setembro, motivados por cortes de água e energia e ampliados por denúncias de corrupção e estagnação econômica. A adesão de militares e gendarmes às manifestações, com vídeos de soldados da CAPSAT pedindo que tropas não atendessem a ordens de reprimir civis, levou a uma ruptura pública com o Executivo. Organismos internacionais relataram mortos e feridos nos primeiros confrontos, enquanto o governo contestou números e classificou parte da violência como decorrente de saques e ações criminosas. Em meio ao caos, Rajoelina dissolveu o gabinete, promoveu mudanças no comando da gendarmaria e prometeu restabelecer a ordem, mas perdeu sustentação crítica no aparato de segurança.
A evacuação de um chefe de Estado, ainda que apresentada como medida de segurança, tem implicações imediatas para a governabilidade. Sem uma transição formal anunciada, surgem dúvidas sobre quem responde pelo Executivo e com qual legitimidade. Relatos locais apontam generais reivindicando posições de comando, ao mesmo tempo em que lideranças civis conclamam por renúncia e convocação de um arranjo de transição. Para parceiros internacionais, o foco se desloca para: proteção de civis; respeito a direitos fundamentais; mediação para evitar um colapso institucional e econômico; e desenho de um roteiro político crível, seja por meio de eleições, seja por um governo de unidade com supervisão multilateral.
A França, ex-potência colonial e ator influente em Madagascar, tenta equilibrar-se entre apoiar a segurança de seu duplo nacional (Rajoelina tem também cidadania francesa, segundo a imprensa) e evitar a percepção de ingerência. A mensagem pública de Paris enfatiza não intervenção, enquanto relatos sobre a aeronave militar revelam um papel técnico-logístico sensível. O desenlace deve depender da capacidade de as lideranças malgaxes, civis e militares, construírem um entendimento mínimo para a continuidade do Estado, sob observação de África Austral e União Africana.
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