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JORNAL RESENHA DIÁRIA

Família ligada a fábrica clandestina é alvo de investigação por intoxicação por metanol no ABC Paulista

  • Foto do escritor: Editorial Resenha Diária
    Editorial Resenha Diária
  • 18 de out.
  • 4 min de leitura

A Polícia Civil de São Paulo desmantelou uma operação familiar suspeita de produzir bebidas alcoólicas adulteradas com metanol, substância altamente tóxica que já provocou mortes e casos graves de intoxicação no estado. O núcleo do grupo, liderado por Vanessa Maria da Silva, atuava entre Santo André e São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, onde foram identificadas fábricas clandestinas e postos de combustível usados no esquema.


A Polícia Civil de São Paulo desmantelou uma operação familiar

A fábrica clandestina e a operação policial

As investigações começaram após registros de internações por intoxicação aguda por metanol no Hospital Municipal de Santo André. Testes laboratoriais revelaram que as vítimas haviam ingerido bebidas com alto teor da substância — um álcool industrial usado para combustíveis, tinta e solventes, que não é próprio para consumo humano.

No início de outubro, uma operação coordenada pelo Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo (Deinter-6) apreendeu mais de 5 mil litros de etanol e metanol, garrafas prontas para distribuição e equipamentos de envase em uma residência no bairro Alvarenga, em São Bernardo do Campo.

Segundo o delegado Artur Dian, a produção era mantida por membros da mesma família, que usavam marcas conhecidas falsificadas para vender as bebidas adulteradas em festas, bares e pequenos comércios da região. “Conseguimos fechar o primeiro ciclo do grupo criminoso responsável por três casos confirmados de envenenamento por metanol”, afirmou Dian.


As vítimas e o alerta das autoridades

Até o momento, três pessoas foram diretamente afetadas pelas bebidas adulteradas: duas morreram e uma segue internada, com perda parcial da visão. Outros oito casos suspeitos estão sob investigação pela Secretaria de Saúde de Santo André.

O metanol, quando ingerido, é convertido no organismo em formaldeído e ácido fórmico — compostos que podem causar cegueira irreversível, insuficiência respiratória e morte. Bastam 10 mL da substância pura para causar intoxicação grave.

A prefeitura do município divulgou nota orientando a população a não consumir bebidas de procedência duvidosa e procurar atendimento médico imediato diante de sintomas como dor abdominal, visão turva, tontura, náusea ou confusão mental após ingestão de álcool.


Como funcionava o esquema criminoso

De acordo com o inquérito, o grupo de Vanessa da Silva comprava etanol combustível em dois postos do ABC, transportava o produto em bombonas plásticas e o misturava a pequenas quantidades de metanol para aumentar o teor alcoólico e reduzir custos de produção.

As bebidas eram então engarrafadas com rótulos falsificados de marcas conhecidas e revendidas em distribuidoras clandestinas e festas de bairro. Parte do lucro era usada para comprar mais combustível e manter a operação ativa.

A polícia apreendeu documentos, maquinários, tampas e garrafas que comprovam o envolvimento da família em uma rede que já vinha sendo monitorada havia pelo menos seis meses.


Falhas de fiscalização e risco à saúde pública

O caso reacendeu o debate sobre a fiscalização de combustíveis e bebidas alcoólicas no Brasil. O metanol, normalmente utilizado em laboratórios e indústrias químicas, é controlado pela ANP (Agência Nacional do Petróleo) — mas o acesso ilegal ao produto ainda é comum em postos e distribuidoras.

Especialistas apontam que a mistura de combustíveis com álcool adulterado é uma das principais fontes do metanol desviado para o mercado paralelo. O episódio no ABC Paulista expõe uma cadeia de negligência que vai desde o controle de revenda de etanol até a falta de rastreabilidade das bebidas comercializadas.

O toxicologista Dr. Eduardo Lopes, ouvido pelo Resenha Diária, reforça:

“Não existe dose segura de metanol. Qualquer quantidade ingerida pode causar dano grave. A população precisa desconfiar de preços muito baixos e embalagens sem lacre original.”

Investigações continuam

Os familiares de Vanessa Maria da Silva — incluindo o marido, o pai e o cunhado — foram indiciados por crime contra a saúde pública, adulteração de produto destinado ao consumo e associação criminosa.A Justiça decretou prisão preventiva para dois deles, enquanto Vanessa responde em liberdade com tornozeleira eletrônica.

O delegado responsável destacou que novas diligências buscam identificar outros fornecedores de etanol adulterado e intermediários na distribuição. O Ministério Público acompanha o caso, que pode ter conexões com uma rede interestadual de falsificação.


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O que é metanol e por que é tão perigoso?

O metanol (CH₃OH) é um tipo de álcool altamente tóxico. Diferente do etanol, usado em bebidas comuns, o metanol é destinado à indústria. Sua ingestão pode causar cegueira, falência renal e morte em poucas horas.Segundo o Ministério da Saúde, os sintomas de intoxicação surgem entre 1 e 72 horas após o consumo e incluem visão turva, dificuldade para respirar e dor intensa de cabeça.

Nos últimos anos, surtos de envenenamento por metanol foram registrados em Pernambuco, Bahia, Paraná e São Paulo, sempre ligados à produção clandestina de bebidas.



Medidas de prevenção

As autoridades reforçam algumas recomendações básicas:

  • Evite comprar bebidas vendidas a granel ou sem selo fiscal;

  • Observe o lacre da tampa e a integridade da garrafa;

  • Denuncie locais suspeitos ao Disque-Denúncia (181);

  • Procure atendimento médico imediato em caso de sintomas.


Conclusão

O caso da família de Santo André é um alerta grave sobre os riscos do consumo de bebidas adulteradas e da atuação de quadrilhas que lucram com produtos tóxicos.Além de tragédias pessoais, o episódio expõe falhas na fiscalização e desafia as autoridades a combater de forma mais rigorosa o mercado clandestino de álcool que se espalha pelo país.

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