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JORNAL RESENHA DIÁRIA

O roubo do INSS e a vergonha de um país que abandona seus aposentados

  • Foto do escritor: Editorial Resenha Diária
    Editorial Resenha Diária
  • 23 de out.
  • 6 min de leitura
Em meio a escândalos milionários e esquemas de corrupção que desviam o dinheiro de quem mais precisa, o caso do INSS revela o retrato de um Brasil desigual, onde a ganância de poucos destrói o sustento e a dignidade de milhões de aposentados e pensionistas.

Opinião do Editor
O roubo do INSS e a vergonha de um país que abandona seus aposentados

Nos últimos dias, eu não consegui esconder o sentimento de indignação que tomou conta de mim ao ver as manchetes sobre o escândalo de corrupção envolvendo o Instituto Nacional do Seguro Social, o INSS. É revoltante. Milhões de reais, recursos que pertencem aos aposentados e pensionistas deste país, foram desviados por um grupo de pessoas que se aproveitou da confiança no sistema público para enriquecer de forma vergonhosa. E o pior: transformaram o sofrimento de quem trabalhou uma vida inteira em um negócio de luxo, em apartamentos de R$ 28 milhões, carros importados e empresas de fachada.


Falar sobre isso dói, mas é necessário. O roubo do INSS não é apenas um golpe financeiro — é um ataque direto à dignidade de quem construiu o Brasil com o suor do trabalho. Cada centavo que falta no pagamento de um benefício, cada idoso que precisa escolher entre comprar remédio ou comida, é consequência de um sistema corrompido por dentro, alimentado pela ganância e pela certeza da impunidade.


Eu cresci ouvindo que o INSS era a garantia do trabalhador brasileiro. A promessa de que, depois de uma vida inteira de contribuição, o Estado estaria lá para garantir um mínimo de segurança e dignidade. Ver essa instituição sendo usada como ferramenta de enriquecimento ilícito é algo que fere profundamente qualquer noção de justiça.


Essas pessoas, com títulos, cargos e aparência de respeitabilidade, usaram o conhecimento jurídico e os privilégios de suas posições para montar um esquema de corrupção digno de filme policial. Criaram empresas de fachada, falsificaram documentos, manipularam processos e desviaram fortunas. Tudo isso enquanto milhões de brasileiros esperam meses por uma aposentadoria mínima, enfrentando filas, burocracia e descaso.


É triste, mas também revelador. O Brasil vive uma crise moral que vai muito além da política. É uma crise de valores, de empatia, de responsabilidade social. Quando o dinheiro do aposentado vira moeda de luxo nas mãos de quem já tem tudo, percebemos que algo está muito errado com o que chamamos de justiça.


Para muitos, a notícia desse escândalo pode parecer distante. Mais um caso de corrupção entre tantos outros. Mas, para quem depende do INSS, o impacto é real, imediato e devastador. É a dona Maria, de 72 anos, que esperava o reajuste da pensão para comprar o remédio da pressão. É o seu João, que trabalhou quarenta anos como pedreiro e agora vive com um benefício que mal cobre as contas do mês.


Essas pessoas não aparecem nas manchetes. Elas não têm advogados caros, não têm como se defender, e muitas vezes nem compreendem o tamanho da injustiça que sofrem. São vítimas de um sistema que as trata como números — enquanto os verdadeiros culpados se escondem atrás de escritórios luxuosos e discursos técnicos.


Eu fico imaginando o que passa na cabeça de um idoso que descobre que o dinheiro de sua aposentadoria foi parar nas mãos de alguém que usou uma empresa de fachada para comprar um imóvel milionário. Deve ser um sentimento de impotência terrível.


O roubo do INSS é mais do que um escândalo. É um espelho. Ele reflete um Brasil dividido entre quem pode tudo e quem não pode nada. Um país onde a lei pesa apenas sobre o pobre, enquanto o rico sempre encontra um jeito de escapar.


Esses casos deixam claro que a desigualdade não está apenas nas ruas — está enraizada nas instituições. Enquanto o trabalhador comum é punido por qualquer atraso no pagamento de contribuição, os grandes fraudadores conseguem desviar milhões com a ajuda de uma rede de conivência e silêncio.


E essa realidade gera um sentimento coletivo de desesperança. O brasileiro honesto olha para o noticiário e se pergunta: “Vale mesmo a pena ser correto?” É uma pergunta triste, mas compreensível. Afinal, a sensação é de que o crime compensa — especialmente para quem tem poder, contatos e dinheiro.


A impunidade é o oxigênio da corrupção. É ela que alimenta a audácia dos que se acham intocáveis. Eles sabem que o sistema judicial é lento, que as punições são brandas e que, com bons advogados, tudo se resolve.


Por isso, golpes como o do INSS não nascem do acaso — são planejados com a certeza de que, mesmo descobertos, seus autores viverão confortavelmente, com o patrimônio protegido em nome de laranjas ou em empresas fictícias.


E nós, cidadãos, ficamos assistindo, indignados, enquanto o tempo passa e nada muda. Quantas vezes já vimos o mesmo roteiro? A operação, a prisão temporária, a libertação, os recursos infinitos e, no fim, o esquecimento.


Mas eu ainda acredito que a sociedade está acordando. A revolta está se transformando em consciência. Cada vez mais pessoas exigem transparência e punição real. A indignação coletiva é o primeiro passo para a mudança.


O que mais me revolta é que o alvo desse tipo de crime são sempre os mais vulneráveis. O idoso, o trabalhador, o pobre. Gente que não tem como se defender, que depende do Estado e acredita nas instituições. Roubar de quem já tem pouco é a forma mais cruel de corrupção.


Esses golpistas não apenas tiraram dinheiro — tiraram esperança. Roubaram o descanso merecido de quem dedicou décadas à construção do país.


E o mais triste é que, enquanto alguns compram imóveis milionários com o dinheiro do INSS, há aposentados morando de aluguel, pedindo ajuda de filhos e netos para comprar um remédio. Essa é a face humana da corrupção: o sofrimento invisível de quem paga o preço.


O escândalo do INSS também escancara a fragilidade dos mecanismos de controle. O Estado brasileiro precisa urgentemente de reformas estruturais para impedir que esse tipo de crime se repita. Não adianta apenas prender os culpados — é preciso mudar a forma como o sistema é fiscalizado, tornar os processos mais transparentes e punir com rigor quem se aproveita da máquina pública.


O combate à corrupção não pode ser apenas reativo. Tem que ser preventivo. O controle interno deve funcionar antes que o dinheiro suma, não depois. E para isso, é fundamental investir em tecnologia, auditorias independentes e, principalmente, em ética pública.


Muitos dizem que o Brasil tem um problema de leis. Eu discordo. O Brasil tem um problema de caráter. As leis existem — o que falta é vontade de cumpri-las.


A corrupção se tornou quase um comportamento cultural. Crescemos vendo o “jeitinho” ser aplaudido, o esperto ser admirado e o honesto ser tratado como tolo. É essa inversão moral que precisa ser combatida.


Enquanto o sucesso for medido pelo tamanho do patrimônio e não pela dignidade do trabalho, continuaremos vendo casos como o do INSS se repetirem.


Apesar de toda essa revolta, eu ainda acredito na justiça — não apenas a dos tribunais, mas a justiça social. Acredito que o povo brasileiro tem força para mudar. A indignação é o primeiro passo da transformação.


Cada vez que um cidadão se informa, compartilha a verdade e se recusa a aceitar a corrupção como algo “normal”, damos um passo à frente. A mudança não virá de cima — virá de baixo, da consciência coletiva, da pressão popular.


O roubo do INSS é um golpe contra todos nós. Mas também é um chamado à ação. Precisamos cobrar, exigir e participar. Só assim poderemos construir um país onde o dinheiro público volte a servir ao público, e não a interesses privados.


O que aconteceu com o INSS é uma vergonha nacional. Um retrato da impunidade e da desigualdade. Mas também é uma oportunidade de reflexão.


O Brasil que eu quero é um país onde os aposentados sejam respeitados, onde os corruptos sejam punidos e onde a honestidade volte a ser um valor e não uma exceção.


Enquanto isso não acontece, seguirei usando minha voz — e minha indignação — para lembrar que roubar do aposentado é o ato mais covarde que existe. E que a verdadeira justiça será feita quando o dinheiro público voltar a cumprir o seu papel: garantir dignidade, e não luxo.

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