Brasil em ponto de ruptura? Os sinais do colapso da máquina estatal e caminhos de saída
- Editorial Resenha Diária

- 14 de out.
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A percepção de que a máquina estatal brasileira vive um processo de esgotamento ganhou força nos últimos anos. A soma de serviços públicos pressionados, desequilíbrios fiscais recorrentes, baixa produtividade administrativa e incapacidade de entrega em áreas críticas formam um quadro de “colapso funcional” em diversos níveis. Mais do que um evento súbito, trata-se de um desgaste estrutural, acumulado por décadas de fragmentação institucional, regras complexas e ciclos políticos curtos.
Pressões fiscais e rigidez do gasto. A despesa obrigatória (previdência, pessoal, benefícios) consome a maior parte do orçamento, comprimindo investimentos e políticas públicas essenciais. Mesmo com arcabouço fiscal e reformas, a margem para priorizar educação básica, segurança, infraestrutura e inovação permanece reduzida. Em estados e municípios, a dependência de transferências e a volatilidade de receitas agravam a fragilidade.
Burocracia e baixa capacidade de execução. O desenho institucional privilegia controle formal e multiplicação de etapas, em detrimento de gestão por resultados. Licitações longas, judicialização frequente e órgãos com competências sobrepostas atrasam obras e aquisições. A carência de especialistas em dados, tecnologia, compras públicas e gestão de projetos limita a velocidade de entrega. Quando há execução, a manutenção de ativos (estradas, escolas, hospitais) é subfinanciada, gerando deterioração e custos futuros maiores.
Tecnologia defasada e ilhas de informação. Apesar de avanços pontuais em governo digital, muitos sistemas são legados, não interoperáveis e vulneráveis. Falta padronização de dados, integração entre entes federados e cultura de avaliação. Sem métricas transparentes de desempenho, políticas mal avaliadas persistem, enquanto boas práticas demoram a escalar.
Serviços essenciais sob estresse. Em saúde, filas, falta de leitos e ineficiências logísticas evidenciam gargalos de gestão e financiamento. Na educação, perdas de aprendizagem e evasão escolar pedem respostas coordenadas, com foco em alfabetização na idade certa e formação docente. Na segurança pública, a fragmentação entre polícias e Justiça penaliza a investigação e a execução; tecnologias de prevenção e inteligência são desiguais entre estados.
Fragmentação regulatória e insegurança jurídica. Normas instáveis, sobrecarga de litígios e múltiplas instâncias decisórias criam incerteza para investimentos de longo prazo. Concessões e PPPs esbarram em projetos mal estruturados, fiscalização difusa e mudanças de escopo. O resultado é custo de capital elevado e atraso em infraestrutura vital.
Capital humano e incentivos desalinhados. Carreiras pouco permeáveis à meritocracia, avaliação de desempenho rarefeita e trilhas formativas desatualizadas desmotivam servidores e gestores. A competição por talentos com o setor privado aumenta, especialmente em áreas digitais. Sem incentivos a inovação, o “manualismo” vence a entrega.
Caminhos de saída: agenda de reengenharia do Estado.
Foco em resultados: contratos de gestão com metas públicas, dashboards de desempenho e orçamento orientado a evidências.
Simplificação e interoperabilidade: revisão regulatória, gov.br como espinha dorsal, cadastros unificados e dados abertos por padrão.
Compras e projetos: uso de modelos de referência, BIM, leilões mais simples, seguros de performance e carteiras plurianuais.
Profissionalização: carreiras transversais (dados, TI, compras, projetos), avaliação de desempenho e formação continuada.
Descentralização com accountability: transferência de competências a quem entrega melhor, com métricas e auditoria.
Parcerias e capital privado: ampliar PPPs e concessões com segurança regulatória e matriz de riscos clara.
Manutenção e prevenção: reservar percentuais mínimos para conservar ativos; saúde preventiva e educação na primeira infância como prioridade.



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