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JORNAL RESENHA DIÁRIA

Rodrigo Maia diz que Tarcísio de Freitas foi “contaminado” pelo bolsonarismo, e acende disputa pela liderança da direita em dois mil e vinte e seis

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    Editorial Resenha Diária
  • 18 de out.
  • 3 min de leitura

Brasília, dezoito de outubro de dois mil e vinte e cinco


Rodrigo Maia
Rodrigo Maia diz que Tarcísio de Freitas foi “contaminado” pelo bolsonarismo e pressiona a direita a escolher entre base radical e eleitor moderado para 2026.

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A declaração de Rodrigo Maia fez barulho no centro do poder. Ao afirmar que Tarcísio de Freitas “foi contaminado pela agenda maluca do bolsonarismo”, o ex-presidente da Câmara colocou o governador de São Paulo no olho de uma discussão que vinha sendo cochichada nos bastidores: quem, afinal, vai liderar a direita nas eleições presidenciais de dois mil e vinte e seis?


Maia, que transita com desenvoltura entre siglas de centro e centro-direita, ecoou uma inquietação real: parte da elite política que flerta com a direita liberal teme que a proximidade de Tarcísio com pautas consideradas de “linha dura” acabe espantando eleitores moderados que aceitaram votar na direita quando o discurso era mais pragmático, menos identitário. Não é que o governador tenha perdido credenciais de gestor — ao contrário, São Paulo segue anunciando carteiras de investimentos e metas de infraestrutura —, mas a leitura de Maia é que o sotaque político ganhou um tom mais radical, e isso poderia custar votos onde as eleições são decididas: no centro.


Nos bastidores, a avaliação é binária. Um grupo defende que Tarcísio precisa do aval do bolsonarismo para manter musculatura nacional, por ser dele que vem o voto mais apaixonado, a militância ativa e boa parte do alcance digital. Outro grupo rebate que sem ampliar pontes para o eleitor que rejeita extremismos, o teto de crescimento fica baixo. Em português claro: com a base radical, chega-se ao segundo turno; com o centro, vence-se a eleição.


O efeito imediato da fala de Maia foi expor fissuras que já existiam. Prefeitos, governadores e parlamentares de direita que não se veem confortáveis com a retórica mais inflamável passaram a testar alternativas — algumas óbvias, outras discretas. Há quem sonhe com uma candidatura que una discurso econômico liberal e trato republicano, sinalizando distanciamento do improviso permanente que marcou parte do debate político nos últimos anos. Nesse desenho, Tarcísio seguiria forte, mas precisaria calibrar: menos sinalização ideológica, mais vitrine de resultados e capacidade de diálogo.


Do lado do governador, aliados minimizaram a polêmica. A narrativa é que o governo paulista coleciona entregas — concessões, obras de mobilidade, reforço em segurança pública, indicadores fiscais sob controle — e que a arena nacional costuma amplificar declarações de ocasião. A estratégia é manter a bússola na gestão e deixar que a vitrine fale, enquanto o jogo de dois mil e vinte e seis amadurece. O risco, avaliam analistas, é parecer que se quer agradar a todos: se o discurso muda conforme a plateia, o eleitor percebe.


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No Congresso, a repercussão dividiu a direita. Um pedaço aplaudiu Maia, por enxergar na crítica um empurrão para reposicionar o campo conservador num tom mais moderado. Outro segmento acusou o ex-presidente da Câmara de tentar esvaziar a força do bolsonarismo por vias indiretas. Em comum, um diagnóstico: a direita só chega inteira a dois mil e vinte e seis se conseguir organizar uma agenda que una eficiência de gestão, compromisso fiscal, segurança pública e um tempero de pacificação institucional. A régua para medir isso será a reação do eleitorado urbano, escolarizado e conectado — justamente onde as falas mais estridentes costumam ter piores resultados.


Há, ainda, o fator tempo. Quanto mais perto da campanha, mais caro fica corrigir rota. Se Tarcísio decidir intensificar o diálogo com o centro, precisará de gestos claros: sinalização de respeito às instituições, discurso econômico previsível, compromisso com políticas sociais eficazes sem aventuras orçamentárias. Se fizer a opção de dobrar a aposta na identidade bolsonarista, a recompensa pode ser manter o engajamento orgânico robusto — mas com o custo de fechar portas no eleitorado moderado que decide a eleição.


No fim, a fala de Maia não é um raio em céu azul. Ela dá nome a uma negociação silenciosa que corre por fora: que direita caberá na cabeça do eleitor médio brasileiro daqui a doze meses? Uma direita que conversa, faz conta, entrega obra e busca sínteses? Ou uma direita que mobiliza pelos extremos e aposta num plebiscito permanente? Enquanto a resposta não vem, o governador de São Paulo continua sendo personagem central — pelo cargo, pela gestão e pelo timing político.


"Por que isso importa:"

Porque a disputa pela narrativa dentro da direita define alianças, vice, palanque nos estados e a própria curva de viabilidade eleitoral. Se a crítica de Maia ganhar tração, Tarcísio será instado a fazer escolhas mais nítidas. Se não, manterá a rota atual, certo de que o caminho até o segundo turno passa pela manutenção da base mais mobilizada.

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